segunda-feira, 10 de junho de 2013

Formando Professores Profissionais




INTRODUÇÃO


 A análise do livro Formando Professores Profissionais, Quais estratégias?, Quais competências? de Léopolf PAQUAY, Philippe PERRENOUD, Marguerite ALTET e Évelyne CHARLIER, 2001, foi feita com base  nas concepções de escola, ensino e aprendizagem.

Formar profissionais capazes de organizar situações de aprendizagem do maternal à universidade, sem limitar-se ao uso de estereótipos e truques tão comuns é, ou deveria ser, a principal preocupação dos programas de formação e formação continuada de professores.
Vamos falar de professores profissionais e das competências que esses profissionais devem desenvolver para exercer bem o ofício de ensinar.
1.         Qual a natureza das competências do professor especialista?
2.         Como essas competências são adquiridas?
3.         Como organizar o aprendizado dessas competências profissionais?
Doze pesquisadores e educadores belgas, canadenses, franceses e suíços, procuraram responder as três questões enunciadas. Cada autor respondeu, a sua maneira, as três questões a partir de seus próprios trabalhos de pesquisa e experiências profissionais. Como conclusão, citaremos as principais linhas que permeiam o debate, assim como as incertezas que ainda permanecem.


Sobre os autores.



Léopold PAQUAY é psicopedagogo, professor da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade Católica de Louvain.


Marguerite ALTET, professora de Ciências Da Educação na Universidade de Nantes, responsável pelo Centro de Pesquisas em Educação na Nantes.







Évelyne CHARLIER, doutora em Ciências da Educação, pesquisadora do departamento “Educação e Tecnologia” das Faculdades Universitárias Notre Dame de la Paix em namur e professora adjunta em Ciências da Educação na Universidade Católica de Louvain.






PHILIPPE PERRENOUD,  é o mais conhecido e traduzido no Brasil, com nove livros ditados aqui, já vendeu mais de 80 mil exemplares. Nascido em 1954, em Bienne, Suíça. Doutor em sociologia e antropologia, leciona na universidade de Genebra desde 1984. Em 1994, com Monica Gather Thurler, fundou e dirigiu o Laboratório de Pesquisa em Inovação na Formação e Educação (LIFE).  Atua nas áreas relacionadas a currículo, práticas pedagógicas e instituições de formação nas faculdades de Psicologia e de Ciências da Educação. Apesar de atuar nessas áreas, o autor não é um Pedagogo de formação. Seu trabalho sobre a produção do fracasso educacional e desigualdade levou-o a focar o papel de alunos, práticas pedagógicas, formação de professores, currículo, de operação de escolas, mudanças no sistema políticas de educação e ensino. Professor Honorário desde outubro de 2009 ele foi nomeado em 2010, como professor visitante na Cátedra Internacional para a Universidade de Ensino da Universidade de Liege. O sociólogo suíço Philippe Perrenoud é um dos novos autores mais lidos no Brasil.  O principal motivo do sucesso é o fato de ele discorrer, de forma clara e explicativa, sobre temas complexos e atuais, como formação, avaliação, pedagogia diferenciada e, principalmente, o desenvolvimento de competências.
Para conhecer um pouco mais sobre o pensamento de Philippe Perrenoud, leia a entrevista concedida a revista Nova Escola.






1) AS COMPETÊNCIAS DO PROFESSOR PROFISSIONAL: ENTRE CONHECIMENTOS, ESQUEMAS DE AÇÃO E ADAPTAÇÃO, SABER ANALISAR
Marguerite Altet



Na França, com a nova Lei de Orientação para a Educação, de 1989, o aluno passou a ser o centro do sistema educacional. Fez-se necessário, segundo a autora, buscar os modelos sobre os quais se apoiam a profissão de educador. Após inúmeras pesquisas, a autora define o profissionalismo como um “processo de racionalização dos conhecimentos postos em prática, somados às práticas que se mostraram eficazes em cada situação”. Para que isso ocorra, é necessário que a formação profissional una três processos diferentes e suas respectivas lógicas: formação, ação e pesquisa.

A ESPECIFICIDADE DA PROFISSÃO DE PROFESSOR

O professor profissional é um articulador do processo de ensino aprendizagem. O ensino é um processo interpessoal e intencional que utiliza a comunicação verbal e o discurso dialógico finalizado como meios para provocar, favorecer e levar ao êxito a aprendizagem em dada situação; é uma prática relacional finalizada (Altet, 1994).
O que torna a tarefa do ensino específica é a necessidade de domínio, por parte do professor, da Didática e da Pedagogia. Enquanto a Didática trata da gestão da informação e sua transmissão ao aluno, a Pedagogia ocupa-se da transformação do Saber através de trocas cognitivas e sócio  afetivas.


AS COMPETÊNCIAS E OS CONHECIMENTOS DO PROFESSOR PROFISSIONAL

Competência profissional está relacionada ao conjunto formado por conhecimento, habilidade, posturas, além de ações e atitudes necessárias ao exercício da profissão de professor.
Para Beillerot (1989 e 1994), Saber é aquilo que para um determinado sujeito é adquirido, construído, elaborado, através do estudo ou da experiência. Diante disso, Altet propõe a seguinte tipologia de saberes:

1.         OS SABERES TEÓRICOS
          Os saberes a serem ensinados – didáticos.
          Os saberes para ensinar – pedagógicos.

2.         OS SABERES PRÁTICOS
         Os saberes sobre a prática – saberes procedimentais, como fazer.
         Os saberes da prática – oriundos das experiências, ações que tiveram êxito, da práxis.



UMA FORMAÇÃO BASEADA NA ANÁLISE DAS PRÁTICAS E NA REFLEXÃO

Análise das práticas está centrada num processo de análise e reflexão das práticas vivenciadas. Em suas pesquisas e estudos, Altet construiu modelos que ajudam a explicitar os conhecimentos empíricos transformando-o em saberes pedagógicos que contribuem na formatação das competências necessárias à formação docente.







2) TRABALHO DAS REPRESENTAÇÕES NA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES
        Simone Baillauqués    

Simone Baillauqués estudou as competências profissionais a partir do trabalho das representações dentro do ambiente de prática e formação de professores. Segundo a autora, se por um lado diversos trabalhos causam impacto sobre as competências exercidas ou adquiridas pelos professores, por outro, não se sabe até que ponto essas competências encontram aderência junto à classe profissional. Dessa forma, aponta para a necessidade de se questionar as relações existentes entre pessoa e profissão.
Seu trabalho representa o professor como profissional crítico capaz de se auto avaliar e de tomar decisões de acordo com preceitos éticos.
Baillauqués levanta algumas questões que devem ser consideradas no estudo das competências profissionais e seus impactos reais na vida acadêmica.


Sobre o “Modelo” de Ensino e de Competências

Até que ponto o modelo do profissional é explicitado, questionado, reconhecido e aceito? E por quem? (Hameline, 1985; Trousson, 1992).
Segundo estudos recentes, para as séries mais adiantadas o interesse pela disciplina é a principal motivação, os que detêm maior currículo acadêmico, são os mais interessados, já que o “conhecimento maior” confere um grau de domínio sobre os alunos.
Para os demais, resta sempre a dúvida sobre sua capacidade e competência em atingir o modelo proposto.


O Mestre (Re)Conhecido


Ensinar,  antes de mais nada,   é a prática da docência em sala de aula. O professor tem seu estilo e representatividade naquilo que é.

Essa ideia influencia o imaginário do aluno de educação desde o início de seu aprendizado.  Segundo a autora, outros aspectos que vivem no imaginário do docente, desde sua formação até a prática em sala de aula, trazem angustia e conflitos  sobra a profissão como -  “não vou fazer história, vou ensinar”; modelo pedagógico aprendido e aquele que é possível; defasagem de conteúdo a capacidade de atualização.

Diante disso, algumas prioridades na formação são necessárias:

- reforço nos conhecimentos e competências adquiridas;
- que respostas poderiam satisfazes as demandas mais profundas frente à “formulação formal”;
- concentrando-se nas competências profissionais, se estão em conformidade com o ofício do professor.



Por fim, conclui-se que, todo investimento possível deve ser feito na construção da identidade do profissional  enquanto “projeto humano” e não apenas na elaboração de competências.


3)  A FORMAÇÃO PARA A COMPLEXIDADE DO OFÍCIO DE PROFESSOR

        Louise Bélair

A autora trata da dificuldade encontrada por alguns professores no período de estágio. Segundo eles, a faculdade não oferece o suporte necessário para atender as demandas no momento da pratica, levando alguns a concluírem que aprendiam mais no estagio que nas aulas teóricas.
Para solucionar o problema, foi implantado o ensino integrado à prática, tendo como principal objetivo integrar o ensino a pratica centrado na reflexão na ação, onde seriam adquiridas competências gerais de base no ensino para poder apreender uma gestão de classe o mais adequado possível, em um tempo relativamente curto.


Para tanto foram estabelecidos alguns passos:

1° Cada estagiário deveria ter seu próprio estilo para ensinar.
2° contrapor teoria e pratica numa ação reflexiva.
3° Desenvolver a autonomia, responsabilidade, tomada de decisão, rapidez de ação e comunicação.

Para tanto, o professor deveria estar aberto a concepção de aprendizagem exigidas pelo Ministério da Educação em seus programas de estudo que remete as teorias construtivistas e holística baseadas nas transdisciplinaridade dos saberes transversais. O que se refere ao ato de APRENDER.
O ato de ENSINAR nessa concepção nada mais é do que facilitar o processo estimular, deixando de ser uma transmissão autoritária do saber.

Sendo assim, O SER PEDAGOGO denota  um improvisador na gestão dos conteúdos, um especialista e ao mesmo tempo alguém que respeita e sabe observar os conhecimentos provenientes do censo comum, um pesquisador, um  prático reflexivo, observando competências essenciais para pratica do seu fazer pedagógico como as competências ligadas a vida da classe, as competências identificadas com os alunos e suas particularidades, as competências ligadas as disciplinas ensinadas, as competências exigidas em relação a sociedade em fim as competências internas a sua pessoa.
Percebemos no final do capitulo que, tanto o saber teórico como o pratico são importantes na formação de professoras o movimento teoria pratica, pratica teoria são fundamentais na formação de professores atuantes e reflexivos.


4)  FORMAÇÃO PRÁTICA DOS PROFESSORES E NASCIMENTO DE UMA INTELIGÊNCIA PROFISSIONAL

         Michel Carbonneau e Jean-Claude Hétu

         
5) FORMAR PROFESSORES PROFISSIONAIS PARA UMA FORMAÇÃO CONTÍNUA             ARTICULADA À PRÁTICA
            Évelyne Charlier

Apesar do autor admitir que  a formação de professores profissionais é  um tema polêmico, ele defende que o saber prático também recorre ao saber acadêmico ou aos saberes acadêmicos múltiplos, sem falar nos culturais entre outros, e isso é o que está em discussão, a relação entre o saber acadêmico e a prática profissional, ciência aplicada, que será percebida ao longo da experiência da professora envolvida nesse projeto.
A cada dia que passa a cada olhar sobre e para a educação, percebe-se que os profissionais do ensino são mais cobrados. São cobranças que derivam desde a eficácia do seu trabalho, bem como exigências quanto a uma formação mais sólida e representada por títulos acadêmicos. As propostas que se reclamam do professor, mais que estar presente em sala de aula, entretanto, convidado a ver a sua profissão como algo a ser zelado e adubado com muito preparo teórico,  há uma distinção entre professor e educador, ao afirmar que, “professor é profissão, não é algo que se define por dentro, por amor. Educador, ao contrário, não é profissão; é vocação. E toda uma vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança” . A alternativa de crescimento tanto pessoal quanto intelectual e profissional do docente abrange perspectivas individuais e coletivas, quando as primeiras se justificam pelo posicionamento do próprio “eu”, visando ao bem coletivo e as segundas se justificam, mais especificamente, pelos índices de colaboração e interação entre os profissionais da classe e sua flexibilidade em partilhar experiências, sentimentos, fraquezas, habilidades e competências que favoreçam ao corpo escolar, propriamente dito.
As exigências quanto à formação docente, não nascem do acaso, apesar de, às vezes, serem consideradas desumanas, conforme as cobranças conhecidas na voz das agências internacionais, que datam início e fim para que o processo transcorra, compreende-se a necessidade do professor atualizar-se, no sentido de ministrar um ensino que corresponda à formação do cidadão que a evolução social aponta. Discutir a questão da mudança e da transformação implica em ver o primeiro termo como uma proposta a ser executada e, como toda proposta, está permeada por metas, objetivos e passos que levam a um fim específico, que aqui, poderia ser colocado como o processo de graduação propriamente dito do professor. Para o segundo termo, seria adequado pensar os resultados da ação docente. Em linhas gerais, essa análise remete a noção de que mudar é preciso, no entanto, deve ser um processo moldado pela transformação, que no caso do ensino, traduz-se pela aquisição de um processo mais interiorizado: a aprendizagem.
     Eu acho que hoje, profissionalmente, em se tratando de conhecimento e atualização, nunca se teve um tempo como este, graças à globalização das informações e as possibilidades de pesquisa em diversas partes do mundo, sem sair de seu escritório ou de sua casa. Os educadores de hoje têm a possibilidade de, cada vez, mais buscarem aperfeiçoamento de seus conhecimentos aumentando suas competências e quem ganha com isto são os alunos, pelo motivo de estarem diante de professores bem preparados. Financeiramente, ainda há muito que se fazer, desde o ensino primário até o universitário. É impressionante que nosso governo ainda não tenha notado o poder que a educação tem na formação de um país melhor e nem o quanto economizariam em programas sociais. Infelizmente os jovens que estão entrando para o Magistério hoje são claros e taxativos: “Não quero morrer de fome dando aula”; “Quero trabalhar em museus ou laboratórios onde o salário valha a pena” e, pior ainda, “Dar aulas para ser maltratado por alunos e ter uma profissão totalmente desrespeitada?”.
Não acredito que a motivação dos professores é a causa, nem consequência. Muito mais que isso é um instrumento didático, que torna o professor um elemento educativo, com capacidade de contagiar através de persuasão. Uma vez que toda informação apresentada, de uma maneira que contenha emoção, é mais fácil de ser assimilada e difundida, não só no mercado educacional, mas em todos os contextos de expansão de informação. A motivação é hoje elemento primordial para qualquer profissional. Ela tem efeito contagiante, auxilia na credibilidade, mostra empenho e demonstra carisma, assim como interesse nos alunos.
A formação continuada se faz elo entre a profissão e a construção da identidade do educador a formalizar a dinâmica social do trabalho docente, especialmente pelo seu caráter conjunto e pela interação da classe educativa com vistas à melhoria da qualidade do ensino, rumo ao alcance dos seus objetivos, os quais retratam como função social para a escola a instrumentalização de um ensino no qual se vivencie a garantia de uma educação para a vida, ou seja, que o que se aprenda na escola seja útil na vida fora desta instituição. Devemos ter em mente que os professores exercem um papel insubstituível no processo da transformação social. A formação indenitária do professor abrange o profissional, pois a docência vai mais além do que somente dar aulas, constituiu fundamentalmente a sua atuação profissional na prática social.
A formação dos educadores não se baseia apenas na racionalidade técnica , como apenas executores de decisões alheias, mas cidadãos com competência e habilidade na capacidade de decidir, produzindo novos conhecimentos para a teoria e prática de ensinar.
Philippe reforça outros aspectos discutíveis na esfera educacional, um exemplo é a mentira, que para ele, esse é um instrumento frequentemente usado pelos educandos quando se vêm inquiridos de algo. O autor afirma que um espaço restrito como a sala de aula é difícil esconder alguma coisa, principalmente do professor, consequentemente essa pressão leva com que os alunos a mascararem a verdade com falsas desculpas. Outro aspecto relevante defendido pelo escritor é a invasão do universo pessoal do aluno por parte do educador. Relata que muitas vezes por necessidade ou pelo bem da criança o professor penetra nesse campo, e esse dilema é tido como normal no campo pedagógico. O autor acrescenta que os conflitos devem ser dirimidos através da comunicação, no entanto, geralmente esta é usada para sufocá-los negá-los. Em síntese, ao autor declara que esses dilemas não podem ser superados apenas por terem sido discutidos, mas precisam de uma estratégia apropriada a cada caso, estruturando-se, em uma linha mestra, pedagógica e ética.

 O autor questiona esse sistema arbitrário e propõe análises dos fenômenos do poder e da autoridade. Ele pontua ainda que é problemático envolver os alunos em um projeto sem privá-los do direito de conversar. Segundo o escritor o professor só aceita a espécie de comunicação dirigida por ele, contudo, Philippe adverte que o educador não deve dispor de seu poder de forma excessiva para não restringir os educandos de liberdade e emoção. Outro ponto focalizado pelo autor é a falta de tempo e espaço para a iteratividade dos saberes do alunado, para que a comunicação flua de todos os ângulos sem perder o fio condutor. Ressalta que esse processo dificulta a continuidade do objetivo pedagógico, reforçando o sentimento de impotência do professor. Em síntese, ao autor declara que esses dilemas não podem ser superados apenas por terem sido discutidos, mas precisam de uma estratégia apropriada a cada caso, estruturando-se, em uma linha mestra, pedagógica e ética.

6)   CONDUTA CLÍNICA FORMAÇÃO E ESCRITA
        Mireille Cifali


Segundo Cifali (2001), o ensino está assim como a clínica, incluído entre os ofícios que lidam com o ser humano e o desafio nisso é que o outro, ou seja, o aluno, tenha acesso ao saber, cresça, supere uma dificuldade paralisante e cure-se.

“Hoje, é propriamente clínico aquilo que deseja apreender o sujeito (individual e/ou coletivo) através de um sistema de relações (constituído enquanto mecanismo, isto é, no interior do qual o prático ou o pesquisador, assim como seus parceiros, se reconhecem efetivamente envolvidos, quer se trate de visar à evolução, ao desenvolvimento, à transformação desse sujeito ou à produção de conhecimento em si, como também para ele ou para nós.”    (Ardoino, 1989, p. 64 apud Cifali, 2001 p. 104)

Para a autora em nossa relação com o outro ou com o social temos uma relação muito afetiva, passional, na qual somos deslumbrados por aquilo que somos. O papel do profissional consiste, efetiva e continuamente, em se colocar a uma boa distância, sem imaginar estar a princípio diferenciado.
Há em toda profissão que lida com o ser humano, um trabalho contínuo de colocar luz nas nossas ações e pensamentos, pois, segundo a autora, nada nos protege de uma derrapagem, por si ou pelo outro. (CIFALI 2001)

Entretanto quando se sugere manter a distância e regulá-la de tempos em tempos, é porque essa atitude leva-nos a trabalhar nosso eu. Já que reconhecer nossos envolvimentos psíquicos em nosso ofício torna-nos menos nocivos aos outros. (CIFALI 2001)

Segundo a autora todo ofício possui ferramentas de mediação, proposições indispensáveis. O ofício de professor exige, sem dúvida nenhuma, uma capacidade de programar, de preparar o que deveria ser, de ordenar, de prever as sequências e de esperar seus efeitos. Nos ofícios que lidam com o ser humano fazemos apostas, trabalhamos com a probabilidade e o acaso, com uma incompreensão crônica. Na incerteza, contudo, tomamos sempre uma decisão. (CIFALI 2001)

Por isso um bom clínico é aquele que é autêntico, que tem visão do todo, que alcança do interior algo que é essencialmente manifesto. Contudo a possibilidade de uma formação clínica depende dos formadores. A qualidade de sua afinidade com os saberes organizados, com os conhecimentos da experiência e da alteridade evidentemente se refletem em sua concepção de formação e nos resultados disso. (CIFALI 2001).




7)   DE ESTAGIARIO A ESPECIALISTA: CONTRUIR AS COMPETÊNCIAS  PROFISSIONAIS
      Nadine Faingold


Segundo Faingold,(2001) a prática pedagógica é governada pelo habitus do professor. A questão da explicação dos saberes da experiência, empregada pelos professores no exercício do seu ofício, está estritamente articulada à problemática da formação. Trazer à luz os esquemas e os saberes mobilizados em uma prática efetiva é um dos meios de elucidar de outro modo a questão das competências profissionais a serem adquiridas em um sistema de formação.
Para Faingold, (2001) é indispensável estabelecer um questionamento particular que torne possível uma passagem do vivido para a representação, e depois para a verbalização, para que o sujeito tome consciência das operações mentais que atinge e dos conhecimentos que mobiliza durante a ação.
A autora apresenta no texto a técnica da entrevista de explicitação que é uma técnica de ajuda à verbalização que admite justamente trazer à luz as condutas intelectuais pré-refletidas que se operam na situação. Essa técnica deveria admitir compreender melhor a natureza das capacidades profissionais estabelecidas no âmbito de um curso de formação. (FAINGOLD, 2001)
Ela conta ainda no texto que uma professora, com base em um diagnóstico individual conseguido de maneira implícita, pôde modificar o sentido de sua ação em plena rota, de maneira a adéqua-se aos novos indicadores de avaliação que se apresentavam à sua percepção embora não pudesse ter consciência de todo esse processo. (FAINGOLD, 2001)
Segundo Faingold, (2001) a decisão adotada pela professora na experiência, deriva também de uma interpretação psicológica muito perspicaz do comportamento, em que todo elemento não-habitual é colocado em destaque, estocado na memória e tratado no período pertinente.
Quando ainda é iniciante no ofício, o professor estagiário não dispõe de qualquer esquema de identificação sensorial, de pensamento ou de ação que lhe possibilite responder através de ações pontuais à situação, mantendo a disponibilidade necessária para continuar a levantar as informações pertinentes sobre o meio e sobre os efeitos de suas intervenções junto aos alunos.
Por isso, é importante estabelecer, durante a formação do professor, condições protegidas de ação e de informação que lhe permita começar e constituir esse conjunto de esquemas profissionais e estoque de rotinas disponíveis, mas, sobretudo, acolher e tratar de forma relacionada toda informação originária de sua turma. (FAINGOLD, 2001)
  



8)   COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS  PRIVILEGIADAS NOS ESTÁGIOS  E NA       VIDEOFORMAÇÃO  
        Leópold Paquay e Marie-Cécile Wagner


Na formação de professores , coexistem vários paradigmas que são relativos ao ofício de professor e a natureza do ensino. São eles: O professor  culto é aquele que domina os saberes (disciplinares e interdisciplinares, didáticos e epistemológicos, pedagógicos, psicológicos e filosóficos)neste paradigma  os estágios são segundos em importância e duração em relação à formação teórica, quando são realizados em campo vem após uma formação disciplinar aprofundada e uma formação teórica pedagógica e metodológica, oportunizam aplicar as teorias anteriormente aprendidas. O professor técnico coloca em prática o saber fazer técnico e aplica as regras formalizadas, a importância dos estágios em campo é tida como um complemento a uma formação técnica e teórica. O professor prático artesão é aquele que utiliza rotinas e esquemas de ação contextualizados, neste paradigma a utilização dos estágios é primordial pois,  permitem que aqueles que estão iniciando possam adquirir e automatizar os saberes práticos. O professor prático reflexivo constitui para si um saber da experiência através de uma reflexão sobre a prática, e seus efeitos produzem ferramentas inovadoras para tornar-se um professor pesquisador, o estágio é tido como um momento de experimentação e base de uma reflexão. O professor como ator social analisa os desafios sociais das situações cotidianas e envolve-se em projetos coletivos. A importância dos estágios em campo na formação acontecem como uma oportunidade de envolvimento em um ofício coletivo. O professor como pessoa está em desenvolvimento pessoal, na formação profissional busca relacionar-se e comunicar-se  com o outro. Os estágios em campo são importantes como uma oportunidade de afirmação do eu profissional e de desenvolvimento pessoal, deve acontecer em diversos momentos da formação e oportunizam a construção de uma identidade profissional. As práticas do microensino e da videoformação, constituem competências e estratégias privilegiadas, pois é possível fazer variadas intervenções nos aprendizados profissionais dos professores em diversos momentos ,as funções atribuídas a esta ferramenta nos processos de formação variam conforme as concepções do oficio privilegiadas pela instituição de formação. Funcionam como instrumento de análise eficazes , pois o registro em vídeo deixa uma marca e permite a auto-observação retransmitida e oferecem ao grupo em estágio a possibilidade de análise de uma mesma situação pedagógica.




9)     O TRABALHO SOBRE O HABITUS  NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES:  ANÁLISE DAS PRÁTICAS E TOMADA DE CONSCIÊNCIA
 Philippe Perrenoud

A ação pedagógica é constantemente controlada pelos habitus (conjunto  de esquemas de percepção, avaliação, de pensamento e de ação),conforme quatro mecanismos: a transformação de esquemas de ação em rotinas, ou seja, uma parte dos gestos do ofício são rotinas que, embora não escapem completamente à consciência do sujeito ,já não exigem mais a mobilização explícita de saberes e regras e mesmo quando se aplicam regras ,quando se mobilizam saberes ,a identificação da situação e do momento oportuno depende do habitus, a parte menos consciente do habitus intervém na microrregulação de toda a ação intencional e racional, de toda conduta de projeto. Na gestão da urgência, a improvisação é regulada por esquemas de percepção, de decisão e de ação, que mobilizam frequentemente o pensamento racional e os saberes explícitos do ator. 


10)     O PROFESSOR COMO “ATOR RACIONAL”: QUE RACIONALIDADE, QUE SABER, QUE JULGAMENTO?

Maurice Tardif e Clemont Gauthier



CONCLUSÃO:

Após a leitura de tão maravilhosa obra que nos remete a importância do papel do professor como gerenciador das ideias e saberes no decorrer da historia, nos levando a refletir na sua praticas, nas mudanças atribuídas aos mesmos, nas interferências na sua pratica, no equilíbrio feito por muitos a fim de se adaptar as mudanças que ocorrem no processo ensino aprendizagem.
Objetivando trazer respostas sobre o saber do professor percebendo as inúmeras literaturas presentes nas prateleiras das livrarias enquanto, isso estamos longe de encontrar a resposta para a pergunta Como formar professores excelentes?
Como formar profissionais para enfrentar no seu dia a dia o desafio de não deixar que a prática extrapole o conhecimentos a fim de não se  tornar mero ator, reprodutor de hábitos formados com a sua pratica sem tomar tempo para se aprofundar nos estudos e pesquisas, para Raymond ( 19963,p.197-198)  o professore precisa de certas ferramentas conceituais e metodológicas a fim de embasar a sua pratica, estar consciente da ideologia política e filosófica que permeiam  sua prática, e assim concordar ou não com ela e  saber se colocar sem deixar de lado o poder de refletir e escolher o caminho a seguir.
 Segundo Nietzsche, o que nos indivíduos, coletividades, queremos desejamos, reclamamos dos especialistas, dos profissionais da área de educação? Precisamos definir o papel do professor que está sujeito a todo tipo de modismos estabelecidos pelo poder político mal se adaptar a um de maneira muito precária e já se vêm  forçados a outro, pois o anterior não deu certo.
Não levamos em consideração a riqueza dos múltiplos saberes , não tomamos tempo em nos aprofundar no ouvir , no vivenciar a cultura o saber cientifico ou o senso comum somos imediatistas em busca de respostas que estão ao nosso alcance , queremos formar professores de experimento uma educação de laboratório, e educação e “gente” ( Paulo Freire), gente que pensa, gente que interage os seus saberes.
Saber que se solidifica na relação com o outro, pois não existe saberes isolados definitivo, pois  todo saber deve estar passivo a correção.
Temos certeza que ao realizarmos a leitura desta obra, muitos pontos passaram despercebido fato que nos remete ao compromisso de uma nova leitura não para a realização de um trabalho acadêmico, mais pelo simples fato de entendermos melhor essa linha do tempo relacionada à formação do professor.
No entanto, o que ficou de muito significativo com a leitura da obra é essa relação do  professor que aprende a ver a analisar de uma forma sistêmica todas as coisas que estão ao seu redor, fala, ouve, escreve e explica o que refletiu transpondo para a sua pratica para a sua formação continuada tudo o que percebe, levando em consideração que toda forma de saberes são importantes tanto do professor leigo quanto do professor especialista, pois cada um traz em se vivencias e experiências adquiridas no decorrer da sua historia e  de uma forma positiva vai influenciar alunos, pessoas com as quais terão contato, tendo uma postura critica e reflexiva para estar  aberto para receber novos saberes também.


Livros de Perrenoud traduzidos para o português







Paulo Freire - concepções da escola, ensino e aprendizagem



A realidade da escola pública brasileira, no início do século XX era uma escola elitizada. Ela só era acessível a uma restrita camada da sociedade; aos ricos, os que exerciam influência, aos dominantes.  Essa situação começa a se transformar a partir da década de 60 e Paulo Freire se destaca com seus pensamentos e ideologias políticas e suas ações que ocasionaram grandes mudanças no fazer pedagógico.

“Não se permite a dúvida em torno do direito, de um lado, que os meninos e as meninas do povo têm de saber a mesma matemática, a mesma física, a mesma biologia que os meninos e as meninas das “zonas felizes” da cidade aprendem mas, de outro, jamais aceita que o ensino de não importa qual conteúdo possa dar-se alheado da análise crítica de como funciona a sociedade. ((FREIRE, 1996, p. 44)

Quebrar paradigmas, desmistificar concepções retrógradas, perceber e compreender as diferenças culturais e sociais; a escola como ambiente que inclui e valoriza educador e educandos são algumas concepções apontadas pelo autor.

Atualmente, presenciamos uma grande revolução em torno das discussões das identidades culturais, onde os sujeitos devem valorizar as suas origens e como conseqüência a importância que esse reconhecimento traz para formação do indivíduo; facilitando o processo de autoconhecimento, bem como, a sua inclusão na sociedade. O autor afirma o dever que o educador tem de disseminar essa discussão e valorização desses pluriculturalismo existente principalmente aqui no Brasil.


Quando nos conhecemos, compreendemos mais claramente a nossa realidade, no nosso meio social e somos capazes de inferir, criticar, analisar, questionar e transformar; não permitindo a manutenção das desigualdades.

Os textos discutidos no livro Pedagogia da Autonomia revela  a importância da equidade entre docentes e discentes. Revela a necessidade de fazer o processo de ensino-aprendizagem, um caminho real de crescimento; “de arregaçar as mangas”, de denunciar o comodismo, de criação de alternativas, de superação. Evidenciando o processo de construção e reconstrução continua do saber e da criticidade. “O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros." (FREIRE, 1996, p. 59)

Freire afirma, que ensinar não é transferir conhecimento, sendo este produzido e construído ao longo do processo das relações interpessoais onde duas ou mais pessoas promovem a troca de informações considerando suas crenças, experiências, emoções, afim de, valorizar a cultura e constituir uma sociedade mais igualitária em seus direitos ainda que observemos em pleno século XXI, a educação sendo mero instrumento de reprodução.

Desta maneira, o educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa. Ambos, assim, se tornam sujeitos do processo em que crescem juntos e em que os “argumentos de autoridade” já não valem. Em que, para ser-se, funcionalmente autoridade, se necessita de estar sendo com as liberdades e não contra eles.” (FREIRE, 1996, p.47)

Em seu manifesto faz importantes considerações a cerca da educação bancária, esta sendo definida por ele como falso ensinar, onde os alunos recebem apenas informações e muito longe de problematizarem as vicissitudes existentes na sociedade. Na educação bancária, o conteúdo era o objeto mais importante na temática educacional. Freire afirma que o conteúdo tem a sua importância, porém podemos ir mais além. O conhecimento deve ser construído, reinventado.
“Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições; um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho - saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria educação ou a sua construção." ( FREIRE, 1996, p.47)

Percebemos a importância do educador reflexivo, aquele que medita sobre sua prática, que observa o seu discurso e sai do comodismo para o criticismo; aceitando ou recusando certas informações, com o fim único em proporcionar a construção do conhecimento. O professor precisa está pronto para este processo e nada melhor que a pesquisa contínua, além de aprimorar seus conhecimentos, poderão estimular seus alunos à pesquisa, a curiosidade, ao despertar. Serão sempre seres inacabados, em construção. E a pesquisa será o principal meio para conhecer e buscar novidades, nesta busca constante. "Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino" ( FREIRE, 1996, p.29).



Os conteúdos elencados na disciplina Didática, falam sobre estreitar a relação sobre ética e docência, porque o processo de ensino e aprendizagem é caracterizado por relações e ações que demandam na concretização da ética.  É dever ético do educador, contribuir para que os alunos se reconheçam como ser social; promover experiências alternativas de formação humana, de respeito mútuo e autonomia. Essas práticas educacionais devem desenvolver condutas, habilidades e destrezas. suscitando  solidariedade, cidadania, construção de identidades e respeito ao outro.
Freire (1999) ressalta que:

"Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos, criticidade, pesquisa, estética e ética, risco, aceitação do novo, rejeição a qualquer discriminação, reflexão sobre a prática, reconhecimento e ascensão à identidade cultural, segurança, competência profissional, generosidade, comprometimento, autoridade, tomada consciente de decisão, disponibilidade para o diálogo, curiosidade, alegria, esperança, convicção que a mudança é possível e, entre outras coisas, querer bem aos alunos. " (FREIRE, 1999, p 37)




A aprendizagem através desta obra, nos traz uma constante reflexão sobre a prática docente e a educativa, no sentido mais abrangente , que suscita em nós o comprometimento e amor pela Educação.
                                                                               (Equipe Harém)








Fonte


Referências

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 36. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996 ( Coleção leitura ).

   SILVA, Daiane Léia Alencar da. Didática. Módulo Unifacs. Salvador, 2013.

   SANTANA,  Noemi Pereira de. Sociedade, Cultura e Educação. Módulo Unifacs. Salvador, 2012.




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